domingo, novembro 05, 2006

As Spice Girls (ou: sobre as verdurinhas de plástico)

Cara, quando eu era pequena, eu era uma criança absolutamente peculiar. E eu ainda tô pensando se trato isso como um auto-elogio ou uma auto-crítica. Os itens que eu mais gostava era daquelas canetinhas, sabe? Aquelas diferentes, pequenininhas e fininhas assim, que vinham numa caixinha de plástico. Elas vinham em umas 20 cores mas o mais fantástico é que vinha uma canetinha extra que tinha o poder e apagar as outras. Então você desenhava e pintava e criava do jeito que queria, porque depois você pegava essa canetinha mágica, tipo uma pária das canetinhas, que fazia o inverso de todas as outras. No auge dos meus 8 anos eu nunca parei pra pensar porque era preciso uma canetinha "inversa" pra apagar, porque se você quer apagar algo na pintura, é só não ter desenhado ali pra começo de conversa. Mas eu nunca pensei nisso, então eu pegava as folhas de papel e pintava o dia inteiro. Era o que eu mais gostava de fazer. Engraçado nunca ter passado pela minha cabeça seguir alguma carreira artística. Eu sempre desenhei, nem bem nem mal, mas de um jeito meu assim, sempre fiz essas coisas de criação artística - depois mais na internet, mas não deixa de ser arte. Mas aí eu pensei que eu tinha que escrever pros outros, que besteira, de onde veio essa idéia? É muita pretensão, é querer mudar o mundo, é querer influenciar. É querer botar as coisas na cabeça delas. Elas lêem o que você fala e aquilo é a verdade e sempre foi. E eu me odeio mais ainda por saber que é exatamente por isso que eu escolhi isso. Eu só escrevi a partir dos 6, 7 anos. Mas desenhar, eu sempre desenhei.

Eu era uma criança nerd de um jeito estranho. Eu escrevi um livro sobre ets e mistério e um grupo de amigos que entrava numa casa mal-assombrada, e sobre uma bruxa estranha, e chaves com códigos, e investigadores misteriosos. Aos 7 anos, em 1995, ou seja, um protótipo do que viria a ser o Código da Vinci ou o Harry Potter. Mas eu perdi esse manuscrito, eu me lembro bem, eu escrevia num caderno brochura de capa vermelha, daqueles pequenos. Na capa, vinha escrito numa letra bem cursiva a palavra "Stilo" no canto superior direito. Era da gráfica em que minha tia trabalhava, eu lembro!, porque ela sempre trazia pilhas de cadernos pra casa, a gente nunca precisava comprar caderno.

E em 1993 eu perguntei pra minha outra tia se o Natal era uma data comemorada em 1993 apenas e a cada um período de tempo 1993 voltava e junto com ele o Natal. Não sei se me fiz entender mas era isso mesmo, e minha tia confirmou (!), o que me faz pensar que eu falava demais e ela já tava de saco cheio então disse qualquer coisa, provavelmente.

Eu jogava tazo, jogava Magic e lia a revista Wizard, aquela dos quadrinhos, e eu tinha 7 anos e ficava desenhando as capas da revista. Desenha o Wolverine, o Homem-Aranha, às vezes copiava de outros lugares, de revistas, eu desenhava o Sonic pra mandar pro jornalzinho que eu recebia do fã-clube do cheetos ou algo assim, desenhei um Bobby Generic (É GÉneric) do Fantástico Mundo de Bob. Eu lia aquele jornalzinho, o diarinho, do jornal daqui de Santo André, lia uma revista que eu não lembro o nome, e eu mandava desenhos e poemas praquela revistinha. Eu assisti Tin-tin, Glub Glub, Babar e Beakman, assistia o desenho do Glub Glub dos caras de massinha. Assistia o programa de ciências que passava à tarde, com um cientista japa e umas crianças, e assistia O Mundo da Lua, e ficava com medo de quando pai do Lucas Silva e Silva era "comido" por um ser invasor de outro planeta.

Meu primeiro CD da vida assim, que consigo me lembrar, foi da Eliana. Tinha os dedinhos e todas essas pérolas do indie-infantil contemporâneo, e eu tinha algo como 4 ou 5 anos. Eu ganhei um CD do Pearl Jam quando tinha quase 12 anos, depois ganhei um do Offspring, e uma vez quando me deram um do Backstreet Boys com uns 13 eu até que tentei gostar!, eu juro, mas parece que não rolou. Tinha uma música das Spice Girls que eu gostava, eu tinha comprado um CD na banca, Disco Hits ou DJ Hits, e vinha essa música das Spice Girls. Aí depois eu ia brincar com a minha feirinha, minha mãe tinha comprado essa feirinha, uma banquinha de plástico pra montar, caralho, com umas verdurinhas de plástico! e eu vendia verduras na minha banquinha, mas um dia a haste da barraquinha acidentalmente quebrou o vidro da sala e meu vô, ele quebrou a banquinha de tão puto.

E eu assinava revistinhas da Turma da Mônica! Vinham todo mês pra casa da minha vó, vinham todas, o problema era que em dois dias eu já tinha lido todas e tinha que esperar mais um mês pelas outras. E depois de um tempo eu tinha essa caixa cheia de revistinhas, aí eu improvisava e montava uma banca d ejornal que só vendia revistinhas, mas ninguém nunca comprava de mim então eu meio que desisti. Depois meu passatempo era brincar de circo no quintal. Eu pegava aquela bicileta que eu tinha, que era um triciclo afinal, tinha duas rodas atrás, e ficava no quintal me equibilibrando, de pé no banco, fazendo essas coisas, e cantava a música do circo, eu brincava que estava no circo, sozinha no circo.


Circo. A minha vida sempre foi um circo.

WMA é uma das canções mais poderosas de todos os tempos.

Ana Paula Freitas at 4:17 AM


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