Eu tive um sonho e nele tudo era diferente. No meu sonho o mundo era mais etéreo, menos palpável e mais surreal mas de uma maneira até plausível, e algo diferente corria no meu sangue, eu não sabia o que era mas corria. E esse algo diferente fazia com que eu visse o mundo como ele deve ser visto: com olhos de criança, ou seja, como se você o estivesse vendo pela primeira vez. Mas de uma forma muito intensa e real. Quando eu tinha 10 anos eu li "O Mundo de Sofia" e eu aprendi que a gente tem que se surpreender com tudo, porque o mundo deve ser visto assim. Eu devo ter aprendido mesmo; dizem que o que causa humor é o inusitado e eu dou risada de várias coisas das quais a maioria das pessoas não ri. Entenderam o raciocínio?
Pois bem, no sonho aquilo que corria no meu sangue fez com que todas as sensações se intensificassem, se tornassem mil; uma risada eram 100, um toque permanecia lá, uma tristeza ou uma preocupação se tornavam a grande ruína da vida - mas isso no meu sangue também me fazia esquecer tudo muito rápido então não tinha problema. Também, as coisas super complicadas do mundo e da vida ficavam mais complicadas, e as coisas fáceis ficavam muito mais simples. E eu via as pessoas e via mais do que o corpo delas, a figura delas; eu conseguia ver o que elas eram realmente, se era bom ficar perto delas ou não. Um ambiente ganhava uma significação absurda, como se eu pudesse sentir todas as energias de tudo que jápassou por ali, tudo que já aconteceu naquele lugar. E eu poderia vir aqui nesse blog e falar de tudo que eu passei na semana, tudo que eu passei na minha vida. Poderia falar das coisas que vi nas viagens de ônibus; das coisas que vivi e percebi e realizei. Mas eu resolvi falar de um sonho, que nem é verdade; é uma coisa que eu inventei e representa a metáfora de uma coisa muito maior e muito mais bonita mas a liberdade de expressão não existe então eu tranformo ela em poesia e faço como os músicos faziam durante a ditadura.
Esse negócio de "I have a dream" eu chamei de Martin Luther King Syndrome. Que tal?
sexta-feira, julho 14, 2006
Delight in our youth
Quando eu era menor, há uns 10-11 anos atrás, eu lia muita revista em quadrinhos. Eu estava no início da minha formação como
nerd: Meu programa preferido era o Beakman, e no dia das crianças, nada de bonecas ou casinhas. Eu queria é aqueles kits de alquimista. Eu assinava os gibis da Turma da Mônica; eles vinham uma vez por mês e deviam ser uns 5, mais ou menos (Mônica, Magali, Cebolinha, Cascão e Chico Bento). Aí eu lia todos em um dia, devorava, e tinha que esperar mais um mês pra ler os outros 5 em um dia (claro). Foi então que fui na banca e comprei uma revista que falava de histórias em quadrinhos - a Wizard. Foi por ela que eu conheci o RPG e o Magic e aí descambei pro
nerd way of life. Na Wizard, também soube, no auge dos meus 8 anos, que as pessoas faziam fanzines. Os fanzines tinha desenhos, tiras, textos e eram distribuídos de graça ou por um valor bem pequeno. Aí eu quis fazer um fanzine; mas acho que esse não era o objetivo dos meus amigos. Eles não queriam saber de fanzines, nem de cartas de Magic - muito menos de RPG. Alguns até tinham interesse nos gibis da Turma da Mônica, mas ainda assim eram poucos. E o fanzine ficou só na idéia, apesar de eu ter esboçado algumas capas e títulos. Comecei a desenhar bastante nessa época, também.
Comecei a ler a Wizard com frequência mensal, e na falta de gibis da Turma, migrei para o Homem-Aranha. Acompanhei durante um bom tempo as aventuras de Peter Parker até que, por motivos financeiros (minha família não pôde mais prover os aproximadamente R$ 3,00 para a compra da revistinha) parei de ler. Continuei, contudo, jogando Magic e lendo livros de RPG.
My nerdness migrou, poucos anos depois, pra outro setor: o da música. Mesmo assim, não deixo de ser uma. A idéia do fanzine, contudo, deve ter permanecido no subconsciente: vai ver que eu, frustrada por não ter conseguido fazer um jornalzinho, tenha então escolhido essa profissão maldita e bendita. Quando eu tinha uns 13 anos, fiz com mais duas amigas minhas do prédio um jornal lá pro condomínio. Teve duas edições, mas foi um sucesso. Não deixou de ser um fanzine, mas acho que não era exatamente aquilo que eu tinha em mente então minha psiquê continuou secretamente frustrada. Freud explica, né?
Resumindo, toda frustração acumulada pelo meu profundo desejo não-realizado de escrever para as pessoas lerem culminou na minha escolha profissional. O blog também ajuda a descarregar um pouco a tensão. Reverti um pouco da obsessão pra música e pra vontade de conhecer o mundo.
Estive pensando das motivações das pessoas. O quanto as coisas são importantes pra uns e tão desimportantes pra outros. Tenho esse sonho (acho meio piegas falar "sonho", acho que é mais "objetivo" - "sonho" soa meio inatingível, enquanto objetivo é mais palpável) de viajar pra Europa, primeiro, mas de conhecer o mundo e as pessoas do mundo. Principalmente as pessoas. Eu já disse isso - mas foda-se, o blog é meu e eu vou dizer quantas vezes quiser (acho que no fundo eu não prezo tanto a democracia) - me fascina lidar com gente, ver as pessoas e o comportamento delas diantes das coias, como elas lidam com diferentes situações sendo diferentes, e é principalmente por isso que eu quero conhecer outros lugares. Quero ir pra esses lugares, observá-los, observar as pessoas neles e escrever sobre isso. Essa é minha descrição de vida ideal no momento. Eis que, na minha usual "passada de olhos" pelo caderno deempregos de domingo, encontro dois anúncios curiosos. Um era pra filmes adultos e não exigia experiência; o outro, oferecia chance de trabalho voluntário na África.
O primeiro anúncio me lembrou imediatamente de um amigo meu, que sempre disse que queria ser ator pornô quando crescesse. O segundo também me lembrou ele e outros dois amigos meus - pessoas incríveis, mas que estão meio sem rumo na vida, sem emprego, sem faculdade e sem perspectiva pra nenhum dos dois. Afinal, pensei comigo, "você está indo pra África pra fazer trabalho voluntário, imagina o tipo de coisa que você vai enfrentar e aprender, e é uma putaoportunidade", e quem recusaria uma proposta dessa? Eu mesma iria tranquilamente se não estivesse estudando - se estivesse só trabalhando, iria sem pensar duas vezes.
Liguei pra esse meu amigo. Só tive coragem de falar do primeiro, porque na hora percebi que ele ia achar que o segundo era piada. Liguei pra outro e falei do segundo. Ele riu. "Como assim? Na África?" E eu: "É, caralho, na África! Voluntário e tal!". E ele riu de novo. E eu ri, não de verdade, e falei "Ok, só pra você saber". E disse até mais. Fiquei me perguntando como alguém poderia recusar algo assim. Eu to num nível de obssessão, num nível em que se eu pudesse largava tudo e ia. Não posso largar tudo porque não tenho dinheiro; coragem não me falta, e nunca fui as bold as Im being now. Mas as coisas parecem estar caminhando na direção certa, se bem que esses são só os primeiros 4 ou 5 degraus. Mas o tempo passa rápido, sempre mais rápido - eu espero que cada vez mais rápido.
Só pra fechar, o post abaixo foi uma meio homenagem ao Syd Barrett e uma meio homenagem ao dia do rock. Pink Floyd nunca significou muito pra mim, e confesso que durante muito tempo eu achava tudo deles um porre. Demorou pra eu captar a genialidade da coisa. E ainda assim nunca cheguei a ser grande fã. Mas é só pra simbolizar o rock n roll como partícula de.. de.. revolução. Como uma faísca que serve pra acender tudo aquilo que precisa ser liberadi, tudo aquilo que é certo ou que é legal e precisa e deve ser feito e a gente não tem coragem. Tudo aquilo que precisa ser falado, out and loud. Lembro de uma frase do Vedder de um show de 96, um show inebriante aliás, em que ele diz na jam de
Porch que se você quer mudar algo ao seu redor você tem que começar mudando você mesmo - clichê, ok, mas depende do seu nível de percepção faz um puta sentido - e que é pra começar agora, e se você tem algo a dizer, algo que poder mudar você e as pessoas a sua volta,
shout it out! Porque isso que é o rock. Um brinde ao rock n roll, que mudou minha vida e contribuiu fundamentalmente na construção da minha personalidade e de tudo aquilo que eu sou.
Ah, que profundo. Nãolevem a sério não. Alguém consegue me imaginar falando umas coisas bregas e sérias assim?
Como complemento ao texto, uma pérola (entenderam o trocadilho?? heim, heim??):
Leash - Eddie VedderTroubled souls unite, we got ourselves tonight, oh...I am fuel, you are friends, we got the means to make amendsI am lost, Im no guide, but Im by your sideI am right by your side, yeah...Young lover I stand, it was their idea,I proved to be a manTake my fucking hand, It was their idea,I proved to be a manWill myself to find a home, a home within myselfWe will find a way, we will find our placeDrop the leash, drop the leash...Get outta my fuckin face Delight, delight, delight in our youth..Ana Paula Freitas at
6:14 PM
quinta-feira, julho 13, 2006
Então você acha que é possível dizer a diferença entre o céu e o inferno? A diferença entre o céu azul e a dor profunda, a diferença entre um prado esverdeado e infinito e uma chuva fria como aço entrando na pele? A diferença entre um sorriso e um véu,você acha que dá pra saber?
E eles conseguiram fazer com que você transformasse seus heróis em fantasmas? Cinzas quentes em árvores, ar quente em brisa fresca? Conforto frio por mudança, você trocou sua caminhada na guerra por um papel principal numa cela?
Como eu queria que você estivesse aqui. Somos duas almas perdidas, nadando num aquário, ano após ano. Correndo pelo mesmo campo, e o que achamos? Os mesmos medos de sempre... Como eu queria que você estivesse aqui.
Wish You Were Here, Pink FloydAna Paula Freitas at
2:31 PM
terça-feira, julho 04, 2006
Shite. Never felt so miserable and so empty. O que eu tenho no fim das contas? Se só posso contar com um blog pra poder falar das coisas quando eu to.. hopelessly miserable, pela falta de melhores palavras no meu belo idioma.
Não tenho nada. E minhas tardes são vazias e eu percebo que eu só não surto no dia-a-dia porque me ocupo com as coisas: me ocupo com o trabalho e me ocupo com a faculdade.. queria me ocupar com outras coisas, mais legais talvez, ou mais agradáveis. O problema é que se eu olhar minha vida assim, de cima, eu percebo que o problema é.. comigo. Ou sei lá. Não mudou nada na minha vida de cinco dias pra cá; ainda assim, há cinco dias eu não estava tão.. down. Não é nada novo, nada que eu não tenha sentido antes.. Mas a cada dia que passa e a cada coisa que acontece, eu vejo o quanto eu não pertenço a esse lugar, o quanto as coisas não são como deveriam ser - e quem sou eu pra dizer como elas deveriam ser? A gente assiste aqueles filmes que no final tudo dá certo e é tão bonito, e sabe porque eles existem??? Pra gente achar que pelo menos de alguma forma aconteçam coisas felizes e que dêem certo. Porque de verdade nada acontece como acontece na fantasia. Nada. É tudo mentira.
E se eu quisesse agora ligar pra alguém pra poder chorar durante horas eu não teria ninguém com quem fazer isso. Porra, eu tenho grandes pessoas ao meu lado das quais eu realmente gosto, parece que tá sendo meio estranho pra me libertar dos meus antigos amigos e move on, deixar que essas pessoas novas definitivamente entrem na minha vida. Mesmo assim eu vou permitir, mas isso é algo que toma tempo. Leva tempo até você ser cúmplice de alguém de uma maneira completa, leva tempo até você achar um amigo que te entenda com o olhar e que você entenda com o olhar. Eu não posso simplesmente ligar pras pessoas e falar dos meus problemas até porque.. eu não deveria falar deles.. Eu deveria ter amigos que pudessem entender o que tá acontecendo só de me observar durante uns minutos.
Não é só o ócio que me arrasta de volta pra depressão e pra essa ansiedade de não-sei-oquê. É outro sentimento que é na verdade, por acaso, desencadeado pelo ócio: o de solidão. O de total ausência de qualquer coisa realmente válida. Nessas horas eu entendo que fodam-se todas as coisas plásticas que eu tenho, e nessa hora que eu entendo realmente, sem clichê nem nada que nada do que é posse realmente importa. O que importa são as coisas que você tem que ninguém pode tirar de você. Tipo as suas experiências, tipo aqueles momentos com as pessoas ou a pessoa. Aquelas coisas boas de lembrar. De repente todas as coisas com as quais eu me importo parecem ridículas e me vem a mente coisas com as quais eu realmente devo me importar - e nenhuma delas pode ser tocada.
E no final eu só tenho mais raiva de mim mesma, porque fico pensando que eu não deveria estar reclamando, que eu tenho um monte de amigos. Que tudo isso é uma besteira da minha cabeça pra eu ou pros outros terem pena de mim.. E isso me deixa com mais raiva e é cíclico. Droga, acho que eu nunca me expus tanto.. E isso também me deixa com raiva.
De tempos em tempos eu passo por isso, e sempre passa e volta um pouco pior na vez seguinte. Independente daquilo que tenho ou não na vida, sempre volta. E aí passa, sempre nas seguintes circunstâncias: alguma pessoa que se mostra adoravelmente amiga e próxima, por coincidência um ou dois dias depois de uma crise dessas. Sempre por coincidência. Não estou... sendo ingrata com as pessoas das quais eu gosto, os alguns amigos que tenho e que sei que tem carinho por mim. Não é isso, é só que.. eu simplesmente sinto essas coisas e eu precisava falar ou eu ia explodir. Não é que as pessoas com quem tenho uma amizade, mesmo que nada muito profundo e sólido, sejam.. maus amigos e não estejam fazendo seu papel. É que.. todos meus velhos e sólidos amigos, eu não os tenho mais. E os novos ainda não são tão próximos pra compreender certas coisas da minha cabeça.. fico com medo até que eles se afastem diante de tamanha perturbação. Eu me assustaria.
Mas como vocês podem notar tão claramente ao ler esse texto - quero dizer, eu não entendo, minha cabeça está muito muito cheia de coisas e extremamente confusa agora, mas pras pessoas que vêem de fora deve estar claro - o problema é provavelmente.. eu. Ou não, sei lá, só to tentando achar uma explicação.
Ana Paula Freitas at
5:29 PM