sexta-feira, julho 14, 2006

Delight in our youth

Quando eu era menor, há uns 10-11 anos atrás, eu lia muita revista em quadrinhos. Eu estava no início da minha formação como nerd: Meu programa preferido era o Beakman, e no dia das crianças, nada de bonecas ou casinhas. Eu queria é aqueles kits de alquimista. Eu assinava os gibis da Turma da Mônica; eles vinham uma vez por mês e deviam ser uns 5, mais ou menos (Mônica, Magali, Cebolinha, Cascão e Chico Bento). Aí eu lia todos em um dia, devorava, e tinha que esperar mais um mês pra ler os outros 5 em um dia (claro). Foi então que fui na banca e comprei uma revista que falava de histórias em quadrinhos - a Wizard. Foi por ela que eu conheci o RPG e o Magic e aí descambei pro nerd way of life. Na Wizard, também soube, no auge dos meus 8 anos, que as pessoas faziam fanzines. Os fanzines tinha desenhos, tiras, textos e eram distribuídos de graça ou por um valor bem pequeno. Aí eu quis fazer um fanzine; mas acho que esse não era o objetivo dos meus amigos. Eles não queriam saber de fanzines, nem de cartas de Magic - muito menos de RPG. Alguns até tinham interesse nos gibis da Turma da Mônica, mas ainda assim eram poucos. E o fanzine ficou só na idéia, apesar de eu ter esboçado algumas capas e títulos. Comecei a desenhar bastante nessa época, também.

Comecei a ler a Wizard com frequência mensal, e na falta de gibis da Turma, migrei para o Homem-Aranha. Acompanhei durante um bom tempo as aventuras de Peter Parker até que, por motivos financeiros (minha família não pôde mais prover os aproximadamente R$ 3,00 para a compra da revistinha) parei de ler. Continuei, contudo, jogando Magic e lendo livros de RPG. My nerdness migrou, poucos anos depois, pra outro setor: o da música. Mesmo assim, não deixo de ser uma. A idéia do fanzine, contudo, deve ter permanecido no subconsciente: vai ver que eu, frustrada por não ter conseguido fazer um jornalzinho, tenha então escolhido essa profissão maldita e bendita. Quando eu tinha uns 13 anos, fiz com mais duas amigas minhas do prédio um jornal lá pro condomínio. Teve duas edições, mas foi um sucesso. Não deixou de ser um fanzine, mas acho que não era exatamente aquilo que eu tinha em mente então minha psiquê continuou secretamente frustrada. Freud explica, né?

Resumindo, toda frustração acumulada pelo meu profundo desejo não-realizado de escrever para as pessoas lerem culminou na minha escolha profissional. O blog também ajuda a descarregar um pouco a tensão. Reverti um pouco da obsessão pra música e pra vontade de conhecer o mundo.

Estive pensando das motivações das pessoas. O quanto as coisas são importantes pra uns e tão desimportantes pra outros. Tenho esse sonho (acho meio piegas falar "sonho", acho que é mais "objetivo" - "sonho" soa meio inatingível, enquanto objetivo é mais palpável) de viajar pra Europa, primeiro, mas de conhecer o mundo e as pessoas do mundo. Principalmente as pessoas. Eu já disse isso - mas foda-se, o blog é meu e eu vou dizer quantas vezes quiser (acho que no fundo eu não prezo tanto a democracia) - me fascina lidar com gente, ver as pessoas e o comportamento delas diantes das coias, como elas lidam com diferentes situações sendo diferentes, e é principalmente por isso que eu quero conhecer outros lugares. Quero ir pra esses lugares, observá-los, observar as pessoas neles e escrever sobre isso. Essa é minha descrição de vida ideal no momento. Eis que, na minha usual "passada de olhos" pelo caderno deempregos de domingo, encontro dois anúncios curiosos. Um era pra filmes adultos e não exigia experiência; o outro, oferecia chance de trabalho voluntário na África.

O primeiro anúncio me lembrou imediatamente de um amigo meu, que sempre disse que queria ser ator pornô quando crescesse. O segundo também me lembrou ele e outros dois amigos meus - pessoas incríveis, mas que estão meio sem rumo na vida, sem emprego, sem faculdade e sem perspectiva pra nenhum dos dois. Afinal, pensei comigo, "você está indo pra África pra fazer trabalho voluntário, imagina o tipo de coisa que você vai enfrentar e aprender, e é uma putaoportunidade", e quem recusaria uma proposta dessa? Eu mesma iria tranquilamente se não estivesse estudando - se estivesse só trabalhando, iria sem pensar duas vezes.

Liguei pra esse meu amigo. Só tive coragem de falar do primeiro, porque na hora percebi que ele ia achar que o segundo era piada. Liguei pra outro e falei do segundo. Ele riu. "Como assim? Na África?" E eu: "É, caralho, na África! Voluntário e tal!". E ele riu de novo. E eu ri, não de verdade, e falei "Ok, só pra você saber". E disse até mais. Fiquei me perguntando como alguém poderia recusar algo assim. Eu to num nível de obssessão, num nível em que se eu pudesse largava tudo e ia. Não posso largar tudo porque não tenho dinheiro; coragem não me falta, e nunca fui as bold as Im being now. Mas as coisas parecem estar caminhando na direção certa, se bem que esses são só os primeiros 4 ou 5 degraus. Mas o tempo passa rápido, sempre mais rápido - eu espero que cada vez mais rápido.

Só pra fechar, o post abaixo foi uma meio homenagem ao Syd Barrett e uma meio homenagem ao dia do rock. Pink Floyd nunca significou muito pra mim, e confesso que durante muito tempo eu achava tudo deles um porre. Demorou pra eu captar a genialidade da coisa. E ainda assim nunca cheguei a ser grande fã. Mas é só pra simbolizar o rock n roll como partícula de.. de.. revolução. Como uma faísca que serve pra acender tudo aquilo que precisa ser liberadi, tudo aquilo que é certo ou que é legal e precisa e deve ser feito e a gente não tem coragem. Tudo aquilo que precisa ser falado, out and loud. Lembro de uma frase do Vedder de um show de 96, um show inebriante aliás, em que ele diz na jam de Porch que se você quer mudar algo ao seu redor você tem que começar mudando você mesmo - clichê, ok, mas depende do seu nível de percepção faz um puta sentido - e que é pra começar agora, e se você tem algo a dizer, algo que poder mudar você e as pessoas a sua volta, shout it out! Porque isso que é o rock. Um brinde ao rock n roll, que mudou minha vida e contribuiu fundamentalmente na construção da minha personalidade e de tudo aquilo que eu sou.

Ah, que profundo. Nãolevem a sério não. Alguém consegue me imaginar falando umas coisas bregas e sérias assim?
Como complemento ao texto, uma pérola (entenderam o trocadilho?? heim, heim??):

Leash - Eddie Vedder

Troubled souls unite, we got ourselves tonight, oh...
I am fuel, you are friends, we got the means to make amends
I am lost, Im no guide, but Im by your side
I am right by your side, yeah...

Young lover I stand, it was their idea,
I proved to be a man
Take my fucking hand, It was their idea,
I proved to be a man
Will myself to find a home, a home within myself
We will find a way, we will find our place

Drop the leash, drop the leash...
Get outta my fuckin face
Delight, delight, delight in our youth..

Ana Paula Freitas at 6:14 PM


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