quinta-feira, maio 11, 2006

Reading through my veings

Aqui na redação, minha mesa fica num ângulo meio desgraçado em relação à porta. A porta, de vidro, é daquelas que tem mecanismo de fechar “sozinha” se você soltá-la – mas ela nunca fecha totalmente, fica sempre uma fresta, pela qual entra um vento cortante que se dirige exatamente a todo o lado direito do meu corpo. Na porta da redação tem uma folha de papel escrito “mantenha a porta fechada”, mas parece que ninguém lê ou pensa que “fechada” significa “com uma fresta”. E muita gente entra e sai daqui, e eu não posso ficar falando pra todo mundo “fecha a porta, por favor!”, senão eu saio como louca. Então eu falo isso só praqueles dos quais eu sou mais “íntima”, mas normalmente eu levanto MUITAS VEZES por dia pra encostar a porta que será a aberta novamente em não menos que 5 minutos – e a pessoa a entrar fará menção de permitir que o irritante filete de ar continue entrando pela porta entreaberta. Esse problema só se tornou realmente sério com a recente queda de temperatura aqui na região – estamos na época de frio, quando faz um solzinho insosso com vento pela manhã, o dia é irritantemente seco – não chove – e a noite tem um frio pesado, chato, daqueles em que você precisa de toucas e cachecóis de lã e que uma calça jeans não mantém suas pernas aquecidas.

Esse frio, hoje, me fez lembrar que deve fazer um pouco mais de frio nos países que ficam mais pra cima. E me fez lembrar da minha tão desejada e cada vez mais próxima viagem. Eu, uma pessoa que nunca teve nenhuma característica sovina; eu que nunca consegui guardar dinheiro pra nada que fosse daqui um mês, quem diria pra 4 anos; eu que sempre fui da seguinte filosofia: “sobrou dinheiro, então gastemos”, estou conseguindo guardar dinheiro pra viajar assim que eu juntar dinheiro suficiente E tiver terminado a faculdade. Parece que a coisa é séria e nem o meu consciente se deu conta. Tive entrando nuns sites de intercâmbios, daqueles cursos que você passa um mês estudando a língua no lugar, e tive a agradável surpresa: eles são bem mais baratos do que eu imaginava. Lógico que a minha intenção, quanto à viagem é ir trabalhar na Europa; mas uma “prévia” - um mês aprendendo inglês britânico – não seria nada mau. Eu, como uma bela adolescente da feliz classe média brasileira que sou, já informei minha também abastada mãe dos meus planos (leia-se: “mãe, olha o preços desses cursos, um mês de aula com tudo incluso, acho que você pode pagar, não?) e ela mostrou-se.. hum, receptiva. Disse-me que há possibilidade no próximo ano ou no outro. E hoje eu entrei no site da 89 FM e deixei minha contrivuição pra uma promoção que me levará Londres, para assistir ao Reading Festival na Inglaterra (Cujo line-up causa espasmos só pela leitura):



O mais estranho é a maneira como eu imagino minha viagem. Quando penso dela (no futuro), ela vem à minha cabeça como minha redenção final e ao mesmo tempo o verdadeiro início da minha vida. É como se eu sentisse que aqui não é meu lugar, que eu fui feita pra conhecer os outros lugares e que eu sei disso. Então quando eu imagino esse “conhecer outros lugares” eu sinto claramente que é meu objetivo final e ao mesmo tempo inicial. É pra onde eu vou e de onde eu venho, como se eu fosse.. “concebida”, desde sempre, pra estar ali, e a partir dali sim as coisas começasse de verdade. Como se até lá as coisas não fossem de verdade.. Não sei explicar.

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Assisti ontem ao show do PJ no David Letterman e foi incrível relembrar das coisas incríveis que aconteceram entre os dias 29/11 e 4/12 de 2005. O triste é que é uma nostalgia que dói até certo ponto, porque foi tudo tão legal que fico excepcionalmente triste em pensar que acabou. Vê-los entrando no palco, não há nada como ver o Eddie entrar, com a feição austera, pelo fundo do palco e acenar levemente com a cabeça, o público uivando de êxtase, com o cigarro na mão direita e a garrafa de vinho e o caderno com a capa marmorizada na esquerda. Dizendo G’night, ele dizia G’evening nos shows da Europa de 2000, e pegando a guitarra – normalmente o Eddie toca guitarra em todas as canções que abrem os shows. Mas é mais legal quando ele não toca guitarra porque é muito mais divertido observá-lo com aqueles trejeitos segurando o microfone, e se apoiando no suporte do mic e batendo o pé, ou jogando pra trás, ou rodando o mic no fio. São tantos anos de DVDs e de VCDs que quando eu fui ao show parecia que eu sabia exatamente o que ele fariam em seguida, eu conheço os trejeitos dos membros da banda como se eu convivesse com eles. O que dá certo medo mas é legal, principalmente quando você encontra outra pessoa que também conhece os caras nesse nível e começa a discutir com ela sobre tudo aquilo que você observa e percebe que ela observa também. Acho injusto não citar Mr. McCready aqui, o cara que pula, e gira o braço, e aponta, e entre essas coisas joga palhetas pra você. Aí ele canta, fecha o olho e pula, e quando você canta, ele olha pra você e fica rindo, ele também ri quando percebe que você erra. E você ri dele e ele ri junto quando ele canta errado. E quando você chama a atenção dele ele aponta pra você. E são 80.000 pessoas na mesma vibração, e você de repente se dá conta que o Vedder tem todas nã mão. Que se ele disse “tirem a roupa”, as pessoas vão começar a tirar. E quando chega o fim, com Yellow Ledbetter, você chora, ao mesmo tempo de euforia e de saudade precipitada porque você sabe que chegou ao fim. Eu não gosto nem de olhar o pandeiro nem a palheta nem os ingressos nem a pulseira nem nada. Porque tudo isso me faz lembrar que acabou e que foi tão rápido que eu fico profundamente deprimida.Ontem também assisti a eles no Jools Holland, maldito o sotaque daquele inglês, parecia falar árabe. E os vi se assistindo em 1990, impagável, é claro, a risadinha do Eddie no “Yeah yeah yeah yeah yeah yeah yeah” depois do refrão de Alive.
Só pra finalizar o papo sobre Pearl Jam, a letra de Come Back, uma das canções novas, é incrível. O eu lírico fala de alguém amado que se foi - mas não que eles terminaram ou algo assim. A pessoa foi por que teve que ir, algo que não pode ser controlado - morte, talvez. E tem um trecho que expressa uma agonia tão bonita, "Please say that if you haven't gone now, I wouldn't have lost you another way", quer dizer, como se a consciência de que ele não seria deixado caso não fosse inevitável trouxesse algum tipo de alívio, algo meio desesperado mesmo. E depois "And in the night, I've been waiting for the real possibility that I may meet you my dreams". Muito muito muito triste.

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Retiro em parte meu post anterior. Não dá pra ter tudo, é claro; eu posso ter desperdiçado ótimas chances de ter amigos mas elas foram minoria, considerando o número absurdamente maior de gente que eu efetivamente conheci. E você pode ter um monte de amigos, e gostar deles, mas não pode compará-los no tipo de amizade que você tem com eles. Acho que os amigos que suprem todos os tipos de necessidade são raros. Nunca encontrei nenhum que fosse assim, a pessoa para todas as horas. TODAS. Mesmo. Cada amigo tem sua especialidade. Se a gente souber reconhecer isso vai ter um montão de amigos legais.

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Desejem-me sorte. Quem sabe eu não vou pro Reading?

Ana Paula Freitas at 6:30 PM


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