quinta-feira, janeiro 12, 2006

Thats why we only work when we need the money!

Quanto estou entediada no trabalho, normalmente eu pego um papel e um lápis, abaixo a cabeça na minha mesa e começo a desenhar – sempre esperta, é claro, pra evitar que alguma cabeça indesejada me surpreenda por cima do ombro. Às vezes falha, é claro, e eu disfarço, finjo que estou rabiscando algo relacionado à minha função. De vez em quando eu fico olhando pela janela, daqui do alto dá pra ver uma boa porção da cidade, o horizonte meio turvo e envolvido por uma névoa acinzentada, que eu aprendi que se chama Ilha de Calor ou algo assim.

Se eu disser que não estou aprendendo nada estarei mentindo. Tirando aquela experiência aproveitável que toda situação nova inevitavelmente traz, têm algumas outras coisas relacionadas com a profissão que eu quero seguir. Alguns conceitos pequenos que eu estou assimilando melhor, por estar o tempo todo em contato com o produto final do jornalismo – a notícia.

Não consigo relaxar aqui, todavia. Todas essas restrições disciplinares só servem pra me colocar desconfortável e fazer com que eu me pergunte, a todo o momento, se não estou transpondo qualquer uma das n regras impostas pela empresa. Eu simplesmente não consigo estar à vontade; é como se algo seguisse me incomodando constantemente, não permitindo que eu me sinta como algo pertencente a esse lugar...

Também, a falta de desafios e a essência do meu trabalho (listar documentos e gerar relatórios ao fim do mês), colaboram para a desmotivação. Todo dia é a mesma coisa... E todo dia tem tanto ou mais trabalho quanto no anterior. Oh, don’t you come with that you’re-gonna-get-used rubbish. Não quero me acostumar, porque no meu caso, isso leva à conformação, e se conformar com isso não é certo. Só estou trabalhando porque preciso pagar a faculdade. O salário não é de todo ruim e o trabalho em sim não é difícil (como eu disse, não exige desafio); as circunstâncias é que levam ao aborrecimento.

Um auto-retrato escrito, nesse momento (10:16 da manhã de uma quinta feira nem tanto ensolarada): Sou uma menina de 17 anos que trabalha e quer cursar faculdade ainda esse ano – e isso depende de passar ou não no vestibular, cuja prova será realizada dia 21. Nas raras e merecidas horas livres durante a semana, costumo ler, ouvir música, traduzir alguns textos ou colorir desenhos no Photoshop – essas coisas me fazem feliz. Aos finais de semana, procuro rever alguns amigos e dormir, mas não consigo; a ansiedade exige que eu use o tempo do sono pra fazer outras coisas. Sinto falta dos tempos em que ficava fazendo nada em casa o dia inteiro e da época em que, quando não tinha nada pra fazer, era só descer alguns lances de escada e gritar alguns nomes pra dar umas risadas. Gosto de música e isso inclui CDs, shows, discos, encartes, fotos relacionadas e tudo o mais. Literatura de ficção, daquelas bem fantasiosas – tipo Harry Potter ou Lord of the Rings, que me cativam de forma que eu penso estar dentro da história. Ficção-política-não-tão-ficção-assim (à la Orwell) ou experimentos enteógenos inovadores (Huxley) também me atraem. Espero pela sexta-feira ansiosamente (a dessa semana é sexta-feira 13, que eu adoro) porque só nos finais-de-semana sou capaz de me guiar pra dentro da realidade alternativa criada pela minha mente – e que me dá forças pra continuar.

Na terceira gaveta ao lado do computador tenho um pandeiro que ganhei do Eddie Vedder no show do Pearl Jam em São Paulo, dia 03/12, e no mural em cima da cama tenho uma foto dos meus avós paternos, sorrindo. Gosto de coisas que estimulem visualmente, arte em geral: fotos, filmes, desenhos, essas coisas.

Pro futuro..? Passando na Cásper, continuo ralando aqui pra multiplicar dinheiro e pagar o curso de Jornalismo. Esse ano quero começar alguma outra língua, Francês ou Italiano. Antes de me formar, quero conseguir emprego num veículo impresso ou em rádio e ao final da faculdade, tentar uma vaga no curso oferecido pelo Estadão pra Jornalistas recém-formados. Aí, trabalho um ano (ou o suficiente) juntando grana pra poder viajar pra Europa – quero morar lá uns tempos.

Se eu não passar... Aí fica tudo quase igual, exceto que esse ano já começaria a guardar grana (talvez mudaria de emprego, pra um lugar mais perto e menos estressante; ano que vem, tento de novo a Cásper e se não der vou de Metô mesmo. De resto, as circunstâncias seriam semelhantes.

Mais pra frente? Uma pós em alguma coisa – que eu ainda vou decidir – lá na Europa, e depois um trampo num veículo impresso pra falar sobre música, aqui ou lá na gringa (seria foda). Depois, encontrar alguém que tenha algumas preocupações semelhantes e que, de forma geral, consiga compreender minhas sandices (o maravilhoso sotaque inglês não será exatamente essencial mas contará uns 8 pontos na média total).

Depois, viver confortavelmente em algum lugar perto das coisas, sendo paga
pra fazer algo que eu verdadeiramente amo. Não se esquecer de freqüentar um lugarzinho longe e bonito, cuja areia seja branca e a água seja clara, ao menos uma vez a cada dois meses. E depois, fazer visitas ocasionais à Amsterdam e a seus sensacionais cafés, se é que vocês me entendem.

A gente não pode fazer com que a vida siga os rumos que a gente quer... Mas ninguém pode me proibir de imaginar como as coisas poderiam ser. Vou imprimir esse texto e guardar, pra ler daqui uns 50 anos. Vai, no mínimo, provocar boas risadas.

Ana Paula Freitas at 10:15 PM


3 commentários.